Cocalqui supera crise mundial da pandemia e é exemplo de cooperação e solidariedade
A passagem do novo coronavírus pelo planeta impactou todos os setores. Na economia, resultou no fechamento de grandes empresas. No Sertão Central do Estado, a Covid-19 encontrou resistência na solidez de um empreendimento-modelo - a Cooperativa de Trabalho da Indústria de Calçados de Quixeramobim, que não parou a produção de calçados, e ainda confeccionou cerca de 10 mil EPI’s para doação.
Nascida da necessidade de fortalecer o setor produtivo e gerar empregos em um município em que a única fonte de renda - a agricultura – vive sob ameaça das secas, a Cocalqui deu os primeiros passos para a sua constituição em 1996. O esforço foi fruto da união de autoridades e lideranças locais e estaduais interessadas em viabilizar a vinda de empresas para a região.
A estiagem recorrente e a consequente incerteza da produção no campo, somadas à escassez de recursos públicos para investimento e falta de oportunidade para os jovens na região resultavam em muitas despedidas; mais e mais pessoas migravam para centros urbanos mais prósperos em busca de emprego formal, de ocupação digna.
Por orientação do Sistema OCB/CE e de entidades governamentais interessadas no desenvolvimento do estado, fomentou-se a filosofia de cooperativas de trabalho como o meio mais competitivo de formação de mão de obra para a atividade industrial voltada à produção de calçados. Após congressos de formação sobre o universo do Cooperativismo, 24 sócios se reuniram para fundar, em 18 de março de 1997, a Cocalqui - Cooperativa de Trabalho da Indústria de Calçados de Quixeramobim. O objetivo, pois, era a criação de postos de trabalho para a geração de jovens colocados à margem do mercado.
Esperança para o Sertão
Maior empregadora da Região Central do Ceará, a Cooperativa de Trabalho da Indústria de Calçados de Quixeramobim tem hoje 4.000 funcionários. O diferencial da organização é oferecer oportunidade de trabalho a quem teria que procurá-lo longe do seu contexto social.
A Cooperativa, atualmente presidida por Antônio Helder Arruda de Oliveira, é reconhecida pela prestação de serviço ao Grupo Aniger (pela produção da marca Petite Jolie), além doutras mundialmente famosas, como a Nike e a New Balance. A produção da Cocalqui é exportada para vários países. Além do trabalho direto, a Cocalqui trouxe às terras do Sertão Central a esperança de dias melhores para a economia regional. Uma nova perspectiva de ganho ajudou a incrementar diversos novos negócios em Quixeramobim e cidades vizinhas.
Trabalho e renda – eis o caminho
A forma mais eficiente de fomentar a economia de uma região é com trabalho e, consequentemente, renda. No caso específico da Cooperativa, os beneficiados, em sua maioria, são pessoas que não participavam da atividade econômica em sociedade; o advento da empresa propiciou o crescimento na região, que durante anos foi destaque no Estado. Além de ser a maior influência para o giro de capital do município e vizinhança, a Cocalqui influencia e revela grandes talentos profissionais nas mais diversas áreas de atuação do ramo de calçados.
Aprendiz Cooperativo da Cocalqui
Iniciativa que contribui para a inserção de jovens no mercado de trabalho, o Programa Aprendiz Cooperativo do SESCOOP/CE é uma grande oportunidade. De acordo com a Lei 10.097 de 2000 (Lei do Menor Aprendiz), toda empresa, de médio a grande porte, ou seja, organizações que possuem 50 ou mais funcionários, deve contratar de 5% a 15% de jovens na condição de aprendizes, para compor seu quadro de colaboradores.
A Cocalqui foi a primeira cooperativa do estado a aderir ao Programa Aprendiz Cooperativo. A formação começou em 2019 com 46 jovens de 18 a 24 anos, e se estende até dezembro de 2020. O curso ofertado é o de “Aprendiz Cooperativo de Assistente em Manufatura de Calçados”, direcionado à área de produção da fábrica e envolve teoria e prática, concomitantemente, totalizando 1.250 horas (400 teóricas e 850 práticas). A iniciativa apoiada pelo SESCOOP/CE torna possível que a cooperativa responda às exigências legais do Ministério do Trabalho, e permite a formação de trabalhadores para atuar no mercado calçadista, liderado pela Cocalqui, na região.
Pandemia e resistência
A realidade do mundo inteiro foi transformada com a chegada da covid-19, um dos problemas mais desafiadores enfrentados pela humanidade no século XXI. Milhões de empresas em todos os continentes cerraram suas portas. Dados da ONU revelam que cerca de 50 milhões de pessoas podem cair para a extrema pobreza, tal será o resultado da crise econômica gerada pelo novo coronavírus.
A Cocalqui, no início da pandemia, viu-se obrigada a parar suas atividades por 70 dias, resultando em faturamento zero. Porém, com a força do planejamento e do Cooperativismo, a empresa está retomando os processos e reestabelecendo os padrões de faturamento. Segundo o diretor-financeiro João Isney Barbosa, a perspectiva é de que até o final do ano será possível reverter pelo menos 20% o prejuízo acumulado até então.
Cooperação em meio à Crise
O projeto de lei de n° 129/20 tornou obrigatória a utilização de máscaras de proteção pela população de modo geral em espaços de uso público e privado no estado do Ceará, em decorrência das ações de enfrentamento ao novo coronavírus. Além disso, a necessidade repentina deixou muitas pessoas desamparadas em relação ao uso de equipamentos de proteção individual.
Graças à tecnologia disponível em seu parque fabril, a Cocalqui pôs em prática o Sétimo Princípio do Cooperativismo (Interesse pela Comunidade), produzindo EPI’s para doação no estado, com atuação orientada à geração de benefícios sociais e econômicos não apenas junto aos associados, mas à sociedade. Cerca de 10.000 equipamentos de proteção individual foram disponibilizados, entre protetores faciais, máscaras de TNT, máscaras de Tecido/hospitalar e luvas cirúrgicas.
Através do Comitê de Crise criado pela cooperativa em tempo recorde - e de um rigoroso protocolo sanitário que também serviu de base à elaboração do protocolo estadual, a pujança do Cooperativismo foi evidenciada com a força do trabalho em equipe.
Atuando de forma responsável e eficiente, a Cocalqui foi a principal doadora de EPIs para hospitais, abrigos, comerciantes e sociedade em geral. João Isney esclarece que a iniciativa não era uma questão de despender recursos financeiros. “O problema é que não havia equipamentos, e não podíamos ficar em uma bolha”. O diretor financeiro afirma que a decisão foi consensual entre os gestores da cooperativa, que perceberam as necessidades da população e concretizaram o ato de doar os EPIs. “Assim, estamos nos afirmando em relação ao nosso compromisso social”, completa.